Nota da AGB em defesa da autonomia intelectual e da pesquisa científica

Nota da AGB em defesa da autonomia intelectual e da pesquisa científica

A Associação de Geógrafos Brasileiros (AGB) vem a público manifestar repúdio aos ataques que vem sofrendo nas redes sociais a dissertação de mestrado de Diego Miranda Nunes. Com orientação da Profa. Dra. Susana Maria Veleda da Silva – do Programa de Pós-graduação em Geografia da Fundação Universidade de Rio Grande (PPgeo – FURG), os pesquisadores se propuseram a compreender cientificamente um tema relacionado às sexualidades.

O espaço geográfico é produzido e vivido por diversos grupos sociais, muitos dos quais comumente identificados como “minorias” no que diz respeito às liberdades e direitos socialmente garantidos. Tais grupos são comumente marginalizados e invisibilizados na produção do conhecimento e nos diversos desdobramentos políticos que se articulam a partir da produção e hierarquização dos saberes. Entender que as formas e possibilidades de apropriação, pertencimento, existência  e sobrevivência no espaço geográfico não são homogêneas e tampouco igualmente garantidas para os diferentes grupos sociais, já é internacionalmente ponto pacificado na ciência geográfica.

Em tempos de globalização, não se pode mais alegar ignorância acerca da importância de campos do saber voltados à compreensão da diversidade de fenômenos sócioespaciais que são definidores de relações de poder no espaço geográfico. É um grande desserviço para a ampliação das fronteiras dos saberes, científicos ou não, a invisibilização, bem como os ataques preconceituosos e obtusos,  aos  estudos acerca das diversas formas e estratégias de articulação de grupos que já sofrem com a marginalização da sociedade.

Repudiamos o ataque às produções científicas que ocorrem: i) pelo desmantelamento das políticas públicas voltadas ao incentivo e ao financiamento da tríade ensino, pesquisa e extensão; ii) por críticas inconsistentes e prematuras a trabalhos científicos, muitas vezes decorrentes de posturas intelectualmente inadequadas, que julgam e divulgam opinião sobre obras sem tê-las lido, e; iii) pelo patrulhamento ideológico em torno de sujeitos considerados ‘inimigos sociais’, entre os quais, se enquadram docentes,  pesquisadores e ativistas de movimentos sociais que se engajam na construção de um mundo menos desigual. Vivemos sob a ameaça da censura em salas de aula, dos cortes de direitos sociais, cidadãos e trabalhistas, entre outros. Além disso, estamos assistindo – e com esse manifesto,  reagindo – às tentativas de deslegitimação e mediocrização da ciência, dos diversos espaços e diversas vertentes de produção de saberes, e da reflexão crítica e intelectual – seja ela acadêmica ou não.

A AGB anuncia sua posição política e científica, e afirma o seu entendimento  de que todo e qualquer fenômeno que demande uma compreensão geográfica, será acolhido pela ciência geográfica, independentemente de discriminações relacionadas a preconceitos e a estratégias de deslegitimação e/ou invisibilização concernentes a classe social, gênero, sexualidades e racialidades. Nossa associação  lutará por justiça social e contra as amarras da censura moralista e conservadora que agravam as injustiças e as desigualdades na sociedade.

Diretoria Executiva Nacional – AGB
Seção Local Porto Alegre – AGB

11 de fevereiro de 2019.

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2 Comentários
  • João Henrique
    Postado às 01:06h, 16 fevereiro Responder

    Parabéns pela nota em defesa da autonomia da ciência geográfica. A Geografia resistirá como sempre resistiu a estes tempos difíceis.

  • Paulo
    Postado às 13:17h, 20 abril Responder

    Gostaria que a AGB se comportasse dessa forma com todas as vertentes e não apenas com aquelas que ela concorda. Infelizmente, vcs defendem apenas aqueles que rezam e suas cartilhas ideológicas.

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